maio 03, 2008

Cultura "in"útil...

Sabe uma coisa que tenho reparado? Que eu pareço ser louca por causa da falta de cultura “in”útil alheia. Pois é... As pessoas ficam bitoladas, limitam seus horizontes e eu é que pareço doida.

Como assim?

Às vezes estou conversando com alguém e cito frases, trechos de músicas ou bordões famosos e clássicos, como uma espécie de brincadeira em que a frase citada reproduz o que eu quero dizer, mas com o adicional de que frases assim carregam uma emoção ou uma impressão exata do que eu quero dizer. Afinal, elas foram citadas em um contexto que, pra mim, assemelha-se ao contexto da conversa ou situação em que estou. Se não se assemelhasse, eu não lembraria de tal frase, né?

Tá meio confuso, mas vou dar exemplos...

“─ Acho que vou sair mais cedo... Será que o chefe vai perceber?
─ Bom, ele está em reunião à tarde. É bem provável que ele nem lembre que vc exista. Mas se ele lembrar e vc não estiver aqui, vc sabe...
─ É... meio arriscado.
─ ‘Por isso, cuidado meu bem! Há perigo na esquina!’
─ Hã?”

Será que as pessoas não reconhecem um trecho da música de Elis Regina? Se fosse um trecho qq de uma música qq, tudo bem. Mas, pelo amor de Deus, trata-se de um trecho marcante de “Como nossos pais” da Elis Regina! Se as pessoas não reconhecem essa frase, eu suponho que elas nem sabem quem é Elis...

Eu ainda pensava “Não é que elas não reconhecem... é que elas não fizeram a conexão”. Aí, depois dela olhar pra sua cara com aquele jeitão de “não entendi” ela pergunta:

─ “Perigo na esquina? Como assim?
─ É um trecho da música ‘Como nossos pais’ de Elis Regina.
─ E o que tem a ver?
*respirando fundo*
─ Quero dizer ‘Aja com cautela’
─ Ahn... Eu, hein.”

Isso quando eu não ouço coisas do tipo: “Vc é meio descompensada, né?”, “Tá doida?”, “Vc fala umas coisas...” ou aquele “Hum...” com cara de paisagem que denuncia claramente que a pessoa não entendeu nada, mesmo vc explicando.

E se tem uma coisa que eu detesto é ter que explicar. Piadas ou sacadas não se explica. A pessoa tem que entender...




Tem outras frases clássicas que as pessoas não entendem:
─ “Isso me dá coisas!”, Dr. Chapatim (do Chaves), eu uso quando algo me irrita. Mas acho que nem com um saquinho de papel na mão e fechando os dedos do lado da cabeça as pessoas entendem... Se eu estivesse com o saquinho na mão dava umas bordoadas no indivíduo.
─ “Posso ser menor que vc, mas minhas unhas alcançam seus olhos.”, Frase clássica de Hérmia a Helena, em Sonho de uma noite de verão, de Shakespeare. Sempre falo na brincadeira, quando alguém está implicando comigo ou algo do tipo. Eu poderia dizer “Mexe com quem tá quieto”, um bordão famoso do programa Zorra Total, mas prefiro Shakespeare... Sempre ouço “Cruzes...”. As pessoas acham que a frase é minha e que sou uma agressiva sanguinária... Ai, ai... Pra não passar por doida, eu explico. Mas tenho certeza que se eu citasse o bordão do Zorra Total as pessoas não só reconheceriam como responderiam “Olha a faca!”. Aff...
─ “Eu quero é que o mundo acabe em melado pra eu morrer doce!”, Frase conhecidíssima do Jamelão. Uso quando quero dizer “eu não to nem aí”, ou “dane-se”. Só que de uma forma mais, ahn... poética.
─ “Apedreja essa mão vil que te afaga e escarra nessa boca que te beija.”, trecho de Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos. Tipo “o cara tá te enrolando”. As pessoas tbm ficam chocadas com a agressividade da frase, como em Shakespeare. Mas claro que isso só acontece pq elas não reconhecem o poema e o que ele quer dizer em seu contexto... Senão entenderiam o que quero dizer.

Bom, o post já tá imenso... Vou parar por aqui, mas eu poderia citar muitos outros exemplos.

Por isso que eu gosto de conversar com a Emilia... Ela sempre entende. O Amantíssimo tbm é bom nisso, mas tbm é casado comigo... Tem algumas outras pessoas que tbm entendem, mas são raras.

De qq forma, acho que as pessoas em geral, deveriam ler mais, ouvir mais ou pelo menos reconhecer que eu sou uma pessoa cheia de cultura “in”útil e não doida!

Ampliem seus horizontes!!

Miau.

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